quarta-feira, 11 de abril de 2007

"Este mundo nos escapa".

Por que acumulamos?

O fato de que a competição generalizada no planeta inteiro se coloca como motor do progresso. Não é mais como no século 18, a representação de uma finalidade superior, de um objetivo grandioso, que seria a emancipação dos homens e a sua felicidade. O motor do progresso é simplemsente a necessidade, induzida pela competição, de avançar para não cair. No fundo, as empresas hoje estão na situação de alguém que anda de bicicleta e que, se não avança, cai. O fabricante de telefone celular sabe que se em três meses seu aparelho não for moderno ele estará acabado.
Estamos numa lógica que, contrariaramente ao que pensam os militantes antiglobalização, as primeiras vítimas são os chefes de empresas, as pessoas que estão nessa lógica. Os antiglobalização imaginam que por trás do mercado financeiro há pessoas que comandam tudo. Como em Wall Street, seriam os grandes financistas e capitalistas que mandam. Eles têm ainda o modelo marxista na cabeça: por trás de superestruturas há infraestruturas. É um enorme erro. Se houvesse pessoas que, por trás do mercado financeiro, comandassem tudo, seria uma boa notícia. Mas não é nem isso. Obviamente que os capitalistas tiram proveito, isso é evidente. Mas, diante de uma onda gigantesca, se você tem uma prancha de surf pode deslizar nela ou cair. Essa é a situação de um chefe de empresa hoje. A globalização produz ondas gigantescas permanentemente e o empresário não tem outra escolha do que surfar ou ser varrido. Ele não tem nenhuma liberdade. Ele pode ganhar ou perder, mas o curso do mundo lhe escapa.
Como escapa aos jornalistas. Num jornal ou num canal de tevê você está na lógica da audiência, que é a mesma lógica dos mercados financeiros, da globalização, da mercantilização do mundo. O problema da globalização é o de que o mundo nos escapa. Ele é a imagem dos grandes mitos de Frankestein e do aprendiz de feiticeiro, mitos da despossessão, que contam a história de uma criatura que escapa ao seu criador, e é isso que vivemos hoje. Não é como dizem os militantes antiglobalização: se houvesse responsáveis por trás, poderíamos prendê-los, fazer a revolução, enforcá-los e tudo estaria acabado. Estamos num processo anônimo e cego.
É assim para as deslocalizações de empresas, são processos automáticos. O chefe de empresa que não deslocalizar sua produção para a Tunísia, China ou outro lugar, moralmente não estará fazendo seu trabalho, que é o de fazer com que sua empresa sobreviva e não o de dizer: "Vou manter minha empresa no meu país mesmo que ela termine em falência". Ele não é como o capitão do século 17 que deve afundar junto com o seu navio. Isso acabou. A grande questão política hoje é: como retomar o controle? É o problema n° 1 para todos os políticos do mundo.


Entrevista com Luc Ferry, "Viver no século 21, segundo Luc Ferry":
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1506795-EI6581,00.html

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